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Desmontagem e reuso local de pedras e tijolos em capela

Arquitetura: Messina | Rivas

(francisco rivas, rodrigo messina, guadalupe sappia)

Colaboradores: Ana Luz Sosa

Equipe civil:

Carlos Alexandre Xavier, Charles Xavier

Fotos: Federico Cairoli

CAPELA INGÁ-MIRIM | 2018

A concepção da Capela Ingá-Mirim nos interessa por motivos óbvios. de um lado pela demonstração de um processo baseado no encontro com uma materialidade que expande a noção de “contexto” em arquitetura para considerar não apenas a paisagem, mas os elementos construtivos disponíveis, distâncias de transporte e possibilidades de trabalho—a arquitetura concebida a partir do tangível ao invés do abstrato—por outro, e conectado ao conjunto da obra dos arquitetos, pela apresentação de uma arquitetura contemporânea de inspiração moderna, mas que questiona nessa inspiração a noção de durabilidade, optando, ao invés das caixas de concreto, por sistemas construtivos baseados em apoios, encaixes e muros de carga mais ‘desmontáveis’.

A criação poética a partir do que se têm (relacionada à obra do paraguaio Solano Benitez) é útil a mostrar o reuso e a oportunidade não como restrições ou infelicidades financeiras de um projeto, mas como aberturas a uma criação relevante.

Texto dos arquitetos:

A Capela Ingá-mirim se situa nas redondezas da cidade de Itupeva, há 80km de São Paulo, em uma fazenda do século XIX. Nos foi pedido para reformar a antiga colônia local de modo a transformá-la em um ambiente que responda a celebrações locais de importância religiosa.

Entendemos a ideia de reforma na arquitetura como uma oportunidade para reinterpretar a construção pré-existente possibilitando novas relações entre o projeto e a paisagem. Para isso, como um ato de reflexão, no projeto da capela ingá-mirim decidimos desarmar os materiais da antiga colônia de forma a reaproveitá-los e dotá-los de uma nova condição.

A construção foi realizada em conjunto com os caseiros da fazenda , os irmãos Carlos e Charles, que antigamente trabalhavam na construção civil e agora fazem o trabalho de preservação local. Com eles experimentamos como poderíamos, através de seus conhecimentos proprios, reaproveitar os materiais de antigas construções locais. Nessas codições, o processo construtivo é lento e se torna uma atividade cotidiana como a de cortar grama, soltar os cavalos ou alimentar os bois. 

Se utilizando do embasamento da construção pré-existente, o projeto se orienta a partir de três muros construídos com mais de 6.000 pedras da antiga estrada que permitia o acesso a fazenda. Entre esses três muros, com os tijolos desarmados da colônia definimos espaços de diferentes qualidades. Assim, o projeto da capela se realiza como um caminho que nos conduz por espacos que procuram uma continuidade entre a construcao e a paisagem sugerindo, portanto, um usufruto religioso aberto.

Quais os principais elementos/partidos conceituais que definiram as primeiras ideias do projeto?

Nesse projeto procuramos exercitar a prática do que chamamos de projetar pelo meio. Para entender o que queremos dizer com isso será preciso aclarar os três sentidos da palavra meio, a saber: projetar pelo o meio do caminho, pelo o meio ambiente e pelo o meio construtivo. Pensar o projeto pelo meio do caminho significa que o partido do projeto já estava dado por uma casa de colônia onde viviam os antigos trabalhadores da fazenda: como pensar o projeto a partir dessa pré-existência? Pensar pelo meio ambiente está ligado à um projeto atento às condições da paisagem e como tais condições podem afetar certos caminhos projetuais: como o projeto deve responder às altas rajadas de vento capazes de derrubar figueiras centenárias da região? E por fim, pensar pelo meio construtivo passa por considerar as condições materiais e construtivas disponíveis no local: junto com os caseiros da fazenda, como podemos reutilizar mais de seis mil pedras abandonadas da antiga entrada de acesso da fazenda?

Quais as principais características espaciais que o projeto propõe?

A disposição espacial dos três muros de pedra faz com que o projeto da capela se realize como um caminho ou um passeio que conduz por espaços variados que procuram uma continuidade entre a construção e a paisagem sugerindo um usufruto religioso aberto.

Qual o elemento que mais influenciou o desenho da proposta (lugar, programa, cliente, relação público/privado, infraestrutura, etc)? De que modo isso pode ser sentido no projeto construído?

Talvez os elementos que mais influenciaram o desenho da proposta foram as mais variadas pré-existências: os materiais disponíveis da casa de colônia e as pedras abandonadas do antigo acesso da fazenda; as condições da paisagem como a leve inclinação topográfica, constante presença solar, altas rajadas de vento e proliferação de passarinhos; os caseiros da fazenda, irmãos Carlos e Charles, que antigamente tinham trabalhado na construção civil e hoje fazem o trabalho de preservação da área; a memoria afetiva dos clientes sobre uma promessa de construção de capela. Isso tudo pode ser sentido na medida em que todos os materiais são fortemente evidenciados; os muros de pedra evidenciam as condições da topografia e permitem a passagem de vento; a alta qualidade construtivas através de procedimentos básicos de construção e, por fim, as mais diversas celebrações religiosas seja ela uma missa ou um passeio reflexivo pelo projeto.

Qual a importância deste projeto no conjunto das obras que já realizou?

De alguma maneira esse projeto da continuidade e legitimidade a uma prática projetual que procura aprender fazendo. Nesse sentido, ao assumir uma postura que encara a pratica enquanto processo, esse projeto deixa evidente alguns efeitos que uma abertura as condições socioambientais de um lugar podem gerar. Nesse sentido, para o recente conjunto de obra que realizamos, o projeto é um exemplo de uma possível pratica projetual reflexiva.

09-ISOMETRICA

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